
Assim como em todas as regiões do Brasil, onde ocorrem conflitos agrários entre fazendeiros e trabalhadores rurais, o Tocantins também registra índices de violência no campo que começam a chamar a atenção. No ano de 2010, segundo o Relatório Conflitos no Campo Brasil, o Estado registrou 186 trabalhadores em situação análoga ao escravo em fazendas, 9 ameaças de morte e 1 assassinato na cidade de Palmeirante.
Em entrevista ao Conexão Tocantins na manhã desta sexta-feira, 5, o membro da Comissão Pastoral da Terra no Tocantins, Silvano Lima Rezende, informou que a CPT tem acompanhado os casos denunciados no Estado e frisou que a entidade tem procurado cumprir seu papel junto aos trabalhadores do campo. “O que temos feito, primeiramente, é acompanhar e assessorar as comunidades em risco. Principalmente em terras públicas da União, que são alvo constante de grilagem e de grandes latifundiários”, disse.
A CPT no Tocantins, de acordo com Lima Rezende, cumpre o papel de conciliador nos conflitos envolvendo trabalhadores rurais. “O papel da CPT é mediar esses conflitos. Apoiar juridicamente através do nosso escritório de advocacia e denunciar ao Ministério Público Estadual e à Ouvidoria Estadual do Campo”, completou.
Assassinato e morosidade do governo
Sobre o assassinato do trabalhador sem terra, Gabriel Vicente de Souza Filho, de 46 anos, o membro da Pastoral da Terra alegou um certo descaso do poder público do Estado com o caso. De acordo com ele, o assassinato, que aconteceu em outubro do ano passado, ainda hoje esta em fase de investigação pela delegacia da cidade de Filadélfia. “Nós achávamos que já havia sido montado o processo criminal, mas até agora ainda está em fase de investigação. Existe uma morosidade do governo que tem gerado uma certa impunidade”, ponderou.
Segundo o membro da CPT, a principal alegação do delegado responsável pela investigação é a falta de estrutura e policiamento na região. Silvano frisou que já informou ao delegado uma possível localização de um dos suspeitos de assassinar Gabriel. “Dentro das nossas limitações, temos procurado fazer o possível para auxiliar a polícia”, informou.
Outros casos
Além da morte do sem terra em Palmeirante, o Tocantins ainda registrou 9 ameaças de morte contra trabalhadores rurais nas cidades de Araguacema, Araguaina, Colinas do Tocantins e na própria Palmeirante.
Além disso o Estado registrou número elevado de trabalhadores em situação degradante de trabalho, ou com privação de suas liberdades. Contudo, o número de libertações pode dar um maior conforto aos trabalhadores rurais do Estado. Dos 186 casos registrados de trabalho análogo ao escravo, 102 trabalhadores já foram libertados, de acordo com o relatório da Pastoral da Terra.
Já a Lista Suja do Trabalho Escravo da Organização Internacional do Trabalho destaca um número maior de trabalhadores nessa situação no Estado. É que para a OIT, são considerados todos os trabalhadores, e não apenas os do campo. De acordo com a lista, o Tocantins conta hoje com 436 trabalhadores nessa situação em 23 empreendimentos. Na última atualização da lista da OIT, mais 4 empregadores entraram.
O maior índice de trabalho escravo no Tocantins está, contudo, no campo, de acordo com a OIT. São mais de 200 trabalhadores da Fazenda Castanhal, na cidade de Ananás, de propriedade de Joaquim Faria Daflon.